quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

O Couchsurfing, BeWelcome ( e outras redes de hospedagem solidária)

Atualizado em 28 de maio de 2013.

Conheci o Hospitality Club em 2007, com um antigo namorado. Passamos 2 noites em Santarém, com jovens alemães que estavam trocando serviço militar na Alemanha por serviço social em país em desenvolvimento, e depois algumas noites na casa de uma professora de música em Manaus, que pesquisa etnomusicologia. Aí, me lembro de ter visto uma das bibliotecas mais impressionantes (pelos títulos, não pela quantidade) e me dei conta do quanto era maravilhoso encontrar pessoas e histórias que não encontraria estando em um albergue, muito menos em um hotel.
Em outras ocasiões, fui conhecendo pessoas, fosse para um jantar, um café ou para me hospedar, em diferentes partes do mundo.

Lembro que resisti por anos em migrar para o Couchsurfing, mas como quase tudo na internet tem seu fim (menos o google, o gmail, o facebook, e esse blog se levantando das cinzas), percebi que o fluxo de respostas estava lento, que era mais e mais difícil achar pessoas em algumas cidades, e enfim, criei minha conta no Couchsurfing (que em tradução literal, que dizer surfista de sofá).

A proposta dessas duas redes é de que você abre sua casa, de maneira solidária, a hospedar pessoas de passagem pela sua cidade. Se não puder hospedar, então convidar para um café, jantar, e/ou mostrar a região.

Qual o interesse em fazer isso?
Para quem viaja, economizar em hospedagem, conhecer pessoas locais, fazer circuitos menos turísticos ("alternativos"), compartilhar experiências, descobrir o que um local come (geladeiras são etnografia pura), ouvir música nova, visitar locais que não estão nos guias de viagem, entre muitas outras.

E por que receber alguém em sua casa?
Porque você também viaja e é bom retribuir a solidariedade (ainda que quase sempre não seja a mesma pessoa), porque você não tem como viajar e receber alguém em sua casa é uma maneira de se comunicar com estes outros locais. Ou porque você estuda ou fala um idioma e não tem com quem praticar, porque gosta de trocar experiências, e uma porção de outros motivos.

Os princípios são ótimos, e todas as minhas experiências eu só tenho coisas positivas. Hospedei-me em no mínimo umas 10 casas diferentes (Santarém, Manaus, La Plata, Buenos Aires, Montevideo, Caracas, Marseille, ...) e infelizmente só hospedei uma vez (um francês de passagem por Campinas para uma conferência de energias alternativas). Essas são as vezes em que aterrizei em locais em que não conhecia a pessoa antes. Sofás de amigos, muitos! E algumas vezes, amigos depois de me hospedar.

Marselha, França! O morador dorme em cima, e a visita, no sofá-cama em baixo. Pela manhã, ele saiu pra trabalhar, e me deixou ficar até a hora em que partia o meu trem. A porta trancava automaticamente ao fechar.




Mas com todo esse positivismo, faço sim a ressalva.
Muita gente tem entrado na rede com outros interesses. Tem os solteiros-xavequeiros (jovens que querem aproveitar para conhecer "gente nova"), os tiozões-xavequeiros (idem aos solteiros-xavequeiros, mas em geral divorciados e com filhos), os sociopatas-solitários (pessoas com problemas de relacionamento, sem amigos, e que buscam amizades pelo site), os carentes (que não sabem ficar sozinhos e querem todos os turistas da cidade),  etc. etc.

Explicando-me melhor.
Para ter acesso ao sistema, você deve criar uma conta, um perfil real, com foto, seus interesses na vida, seus hábitos (se fuma ou não), se dorme tarde ou cedo, se prefere sair a noite ou curtir a natureza, etc. etc. E no caso de hospedar, as condições: quantas pessoas por vez pode receber, se pode ser homem ou mulher, se pode fumar na casa ou não, os melhores dias pra hospedar, etc. etc. Navegue um por lá.

Meu cantinho por 4 noites em Stroud, Inglaterra
Então, minhas dicas gerais para o uso do sistema (que não são regras, e podem ser contraditórias as regras de outras pessoas são):

No caso de ser o hóspede
  • Não aceite se hospedar em casa de homens que só aceitam hospedar mulheres. 
    • Qual seria a justificativa racional para isso? Perfil solteiro-tiozão-xavequeiro.
  • Procure pessoas com referências. Alguém sem referência alguma (nenhum amigo no Couchsurfing) é algo que não confio. 
  • Dê preferência a perfis mais antigos (não que perfis novos não sejam confiáveis), são pessoas que entendem melhor o conceito, e já aprenderam com antigos hóspedes ou anfitriões.
  • Evite pessoas que tem ao menos uma referência por semana.
    •  Acho estranho pessoas que recebem toda a semana um hóspede em sua casa. Ter alguém estranho em casa não é simples, e de uma maneira ou outra, toma tempo. Para mim, é indício do perfil sociopata-solitário-carente.
  • O mais importante: escute o seu sexto-sentido.
Sugiro também usar as ferramentas de busca com palavras-chave, e assim aproveitar para encontrar pessoas com afinidade. Eu admito usar as palavras "vegetariano", "permacultura" e "agroecologia" nas minhas buscas.

Arepas na casa do nosso anfitrião (viajei com um amigo), em Caracas, Venezuela.

No caso de hospedar
  • Não aceite pessoas sem referências. Hospedo com ressalvas se a pessoa tiver um perfil no facebook e alguma outra referência.
  • Evite pessoas de perfil novo (não aceito ninguém com menos de 2 semanas de sistema).
  • Defina bem as regras: lavar a louça, acesso a comida (comprar ou dividir), horários, acesso a internet, áreas da casa que pode usar, entre muitas outras.
  • Avalie se o hóspede pode ficar na casa sem a sua presença ou não, e avise-o.
  • E seja bacana também: um mapa da cidade, algumas dicas gerais do que visitar, onde comer, etc.
Eu me cansei de ter guest folgado e acabei criando uma lista de regras para os meus visitantes no Marrocos. Ela está disponível aqui.

Problemas no Couchsurfing usando o itinerário aberto
Eu uso bastante o sistema de itinerário, mas começo a desaconselhar. É fazendo isso que recebi um "convite" de hóspede em Cremona (Itália) que queria me conhecer. Não aceitando minha recusa, se propôs a ir me visitar na França (mais de 1000 km de distância).
Outro caso: uma oferta de quarto para alugar em Florence (quando na verdade o site é para hospedagem solidária, sem custos).
E de um carente-solitário de Milão, que tem várias referências negativas.
Só sugiro para localidades/cidades em que realmente existirem poucas ou nenhuma pessoa cadastrada.
Mas as vezes você pode encontrar pessoas geniais também, por esse mesmo sistema.

Cicloviagem
Para os ciclistas, há um outro sítio internet específico, que se chama Warmshowers. Diria que essa rede é bem menos conhecida, e em algum grau, um pouco mais segura. 
Aqui, espaço pra acampar no quintal, ferramenta, e até mesmo uma máquina de lavar são serviços possíveis de oferecer aos viajantes.

Termino essa postagem com a minha frase do perfil no Couchsurfing.

O Couchsurfing é tão seguro quanto atravessar a rua: não é perigoso, mas é preciso estar atento.


---
O Couchsurfing foi privatizado, e os bons participantes estão migrando para outra rede, o BeWelcome.
Seja bem vindo nesta nova rede. 

Um comentário:

  1. Bôa, Natalie!!!!
    Vou passar esse link para minha filha Milla, que está querendo ir à França ainda neste ano.
    Paulo Mascarin

    ResponderExcluir