Hoje participei da minha segunda marcha. A primeira foi na sexta-feira.
Aqui se faz marcha para quase tudo.
Mas o que quero comentar é como aqui as marchas estão constituídas como maneira de atuação política. Se no Brasil tudo acaba em pizza, aqui tudo acaba
EU começo a ler está semana "Breve História de
A marcha de sexta-feira era de Julio Lopez. Ele foi um dos muitos presos e torturados da época da ditadura que sobreviveu. Muitos anos depois, no início dos anos 2000, decidiu contar sobre o que viu (e quem viu) nos centros de concentração. Abriu-se então um inquérito para apurar as ações do senhor Miguel Etchecolatz, milico da época. Com evidências em mão, começou o julgamento, até que no dia 18 de Setembro de 2006, seria o último julgamento, onde o coronel Miguel Etchecolatz foi declarado culpado e preso por envolvimento na tortura e práticas políticas da ditadura.
Todos esperavam a testemunha, Lopez, neste dia. Lopez "não apareceu". Desapareceu. Desapareceu como desapareceram tantos jovens daquela época, que segundo o discurso de muitos militares, não estão mortos, estão vivendo em Cuba, e as famílias argentinas não têm notícias por conta do governo do Fidel, que fez com que os jovens desaparecidos da ditadura não tivessem vontade de voltar de lá.
Essas dores estão arraigadas nos argentinos. Muitos dos estudantes de hoje tiveram pais torturados na ditadura. O pai da Sole, que mora comigo, ficou preso por 5 anos. A mãe dela, que tem um bócio enorme, recusa-se a fazer uma cirurgia. Não vai a médicos até hoje, carregando a lembrança de muitos que ajudavam o governo militar a sacar a verdade dos jovens rebeldes.
No 18 de cada mês os estudantes, de todos os 3 grupos políticos, saem às ruas
Mas a marcha não deixa de ser, de alguma maneira, "coisa de adolescente". É onde as pessoas se encontram, conversam, há bateria, cantam, caminham pelas ruas em que geral não se pode caminhar, fechando o trânsito, trangredindo o dia a dia, levando faixas. A fantasia é o vermelho e negro. (tirando a cor do Flamengo, bem que lembra o Carnaval, não?). Talvez a Lívia esteja certa, a marcha é fruto da falta de Carnaval.
Tem um movimento de grafite muito forte também! Por onde passa a marcha, os grafiteiros deixam mensagens para que os caminham pela rua."Donde está Lopez?", "Sin Lopes no hay nunca más", "Aparición con vida yá de Julio Lopez"(esta última, em específico, me parece uma pauta de reivindicação bastante furada).
Se no Brasil, a pressão da informação da identidade nacional está no velho chavão de que "Brasileiro sempre se esquece", o que manda aqui é "O argentino nunca esquece".
Pode ser bom esquecer. Para seguir, às vezes é importante deixar as coisas para trás.
Onde está o equilíbrio entre este sempre e nunca.
Este blog é um depositário das minhas andanças e olhares pelo mundo. Com um punhado de informações para viajantes desavisados, e algumas opiniões pessoais sobre o mundo. Também algumas das minhas experiências em tentar ser uma pessoa mais frugal. Boa viagem!
quinta-feira, 24 de abril de 2008
Argentina - Movimentos "Populares" e Estudantil
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário