terça-feira, 29 de abril de 2008

A não marcha de Gualeguaychú

3h30 da manhã, saio de La Casa del Pueblo, mais um dos prédios "tomados pelo movimento" e transformados em espaço cultural. A banda Carinhosos da Garrafa tocava samba e pagode, mas o ônibus para Gualeguaychú, província de Entre Ríos, Argentina, saía as 4 a.m. da Faculdade de Agronomia.
Éramos 19 estudantes e o motorista, com comida, mate e água para um dia, prontos a acompanhar a Asamblea Ciudadana Ambiental de Gualeguaychú na IV Marcha Contra Las Papeleras. Papeleras = indústrias de celulose (neste caso, refere-se a um empreendimento de alto porte da escandinava BOTNIA). Se fosse em fevereiro o motivo poderia ser o famoso carnaval de Gualeguaychú.

Qual o conflito?
A instalação de indútrias poluidoras produtoras de matéria-prima, gera $, gera "trabalho", melhora os índices! Afinal, somos países em via de desenvolvimento, e barrar a entrada de uma empresa de tamanho porte, e barrar o desenvolvimento, e não é isso que nós, latino-americanos queremos. Queremos nos DESENVOLVER! (submissão cultural em diferentes aspectos - há poucos dias me referi a mim e a um argentino com quem conversava como latino-americanos; ele parou por algum tempo, nunca tinha se catalogado como tal. Antes de latino-americanos, são descendentes de italianos ou espanhóis).

Preocupados com o crescimento dos países do Sul, a indústria finlandesa cede a nossa gente a chance de ter perfumados bosques de eucalipto, de seguir em contato com o Dióxido de Cloro (coisa que europeu não pode mais, pois lá é substância proibida desde 2007), e de fazer um bom uso de toda a água que se desperdiça no Rio Uruguay (afinal, águas passadas não voltam mais), gastando 60 milhões de litros diários que saírá mais quentinha e cheia de compostos orgânicos e inorgânicos - um estímulo a "seleção natural".

Na grande mídia brasileira, o conflito é visto como uma briga político-econômica entre Argentina e Uruguai. A tentativa de nacionalizar o conflito é usada para enfraquecer a luta popular que é feita dos dois lados da fronteira. A empresa não tem licença social! A comunidade votou contra a implantação da indústria.

Mas infelizmente eu não conheci a situação in loco.

A queima dos pastizales voltou, e o humo retomou o domínio das estradas. (na mesma época, a regiao ao sul to Rio de La Plata por dias foi tomada pela fumaça da queima das pastagens de Entre Rios). Visibilidade zero, perigo, e busca por um posto de gasolina(estación de servicio) para parar e esperar. Ficamos parados no posto das 7h30 às 11h30. Nós e muitas outras famílias. Seguir viagem era impossível. Com o sol, a fumaça subiu, e seguimos viagem. Mas a ponte já estava cortada. A Asamblea corta as pontes da fronteira com o Uruguai, mas ao longo deste trajeto a polícia já começa a intervir, e pára-se toda a estrada na saída de cada município. São quilômetros de rodovia interditada.
Dali não se podia passar. Ao menos não ontem.
E assim voltamos, cansados e anestesiados por tudo!

Aqui o negócio é marchar e cortar rutas.
A metologia é a mesma, nos diferentes grupos, nos diferentes conflitos.

MAs leiam esta página:
www.noalaspapeleras.com.ar/

Nenhum comentário:

Postar um comentário