domingo, 17 de agosto de 2008

Recauchutagem

São José dos Campos.

Pais, cama, quarto. Colchão bom, meu travesseiro, lençol limpo. Noite bem dormida.

Dentista. Limpeza dos dentes, adeus tártaro, e viva a saúde bucal. Aproveite enquanto paga a Petrobrás e a Unicamp te mantém como aluna. Uma nova escova de dente para encher a futura necessaire.

Unhas. Eu como! Não é sempre, mas há épocas em que comer as pelinhas e tentar polí-las com os dentes parece ser o único a fazer, e tão natural como respirar. Mãe irritada, visita a manicure.
A vontade de comer continua, mas já resisti a 8 horas.

Cabelo. Não foi o corte argentino. Mas eu não penteio, não gosto. De vez em quando, quando eu lavo. Pontas secas, falta de corte. Minha mãe quer que eu seja apresentável.

A antiga cabeleireira, Iara, que me libertou das mechas longas em 2005 não pode mais trabalhar. Está com umas dessas doenças de trabalho, LER, tendinite, ou qualquer coisa parecida. Doença do século 21, já protestada por Chaplin em tempos modernos.

Novo salão. Mulheres buscando a beleza, pagando por ela. Papel alumínio, secador, barulho, cheiro de cabelo queimado, produtos para tratamento importados, bijouterias bregas. Um mundo de necessidades criado.
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Quando eu era pequena, todos os sábados pela manhã, às vezes pela tarde, eu e minha irmã acompanhávamos minha mãe ao salão de cabeleireiro. Era ali que ela passava parte do tempo livre que tinha, e tínhamos que estar ali para conviver com ela.
Eu lembro que era uma manicure loira, com o cabelo longo, parecia um pouco com a Elke Maravilha.
Nessa época minha mãe só usava esmalte vermelho. Depois veio a moda do mais clarinho. Mas nunca deixou de passar um cintilante por cima. de tudo

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Meu novo cabeleireiro se chama Gabriel. Ele tem tatuagens, e um terno de veludo comprado em Londres, em alguma dessas lojas famosas. Custou 1500 libras. Mas trabalhando na Inglaterra dava pra comprar essas coisas.

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Uma mulher grávida não pode pintar o cabelo nos três primeiros meses de gravidez. É perigoso para o feto. Mas no fim da gestação, reluzia o vermelho artificial na cabeça de uma futura mãe. Nem deve ser tão tóxico assim. Ou então o bebê já nasce pronto pros químicos que vai enfrentar no mundo real.
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No filme publicitário Sunscreen, vomitado em português pelo Pedro Bial, eles falam asim:
"Don´t see Beauty Magazines
They will only make you feel ugly"
Acho que acabei ficando com isso na cabeça.

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Me arrancaram a sombrancelha também. Acho que agora devo estar bonita. Bonita não. Mas com o padrão estético perseguido pela sociedade saloneira dos sábados a tarde. Aos menos não vi nenhuma revista CARAS. Mas passava o programa do Luciano Huck numa tevê de tela plana.
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Recauchutaram a TV também. Agora ela é digital. Meu pai está maravilhado!

3 comentários:

  1. belo texto. tipo crítica à vida burguesa, gostei do toque de nostalgia dos salões da mãe de unha vermelha.

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  2. serio, vc vai estar na unicamp?
    oO
    poxa, a gente podia se conhecer!! jah conheceu algum amigo virtual na vida? eu nunquinha.

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  3. ME MANDA UMA FOTO!!!!!!!!!!!!!!!!
    Quero ver, quero ver, quero ver.
    Adorei seu texto... sunscreen é demais, realmente as beaty magazines só fazem a gente se sentir feito.
    O texto está fantástico e sua postura é sempre irretocável. Continuo querendo ver as fotos...

    Beijos!

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