quinta-feira, 14 de março de 2013

As caronas Old School - Parte 1

Já que é dia de olhar pro passado, vamos narrar mais aventuras por aqui.

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Nos idos de 2007, namorava um belga, era dura (vivia com bolsa da Unicamp e de aulas mal pagas de inglês), e queria continuar vendo o mundo. Confesso que sempre achava arriscado viajar de carona, me meter na beira da estrada, subir no carro ou no caminhão de um desconhecido, e coisas do gênero.

Mas um dia aconteceu. Fui convencida pelo Greg, velho estradeiro, que já tinha feito isso muitas vezes pelas terras seguras do mundo dos países já desenvolvidos, na Europa e Canadá.

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A segunda viagem

Tínhamos quase uma semana de férias. Como ele era estrangeiro e não conhecia quase nada do Brasil, qualquer roteiro, era roteiro. Eu que sonho alto e já tinha visto muita coisa da nossa terra, decidi que queria chega ao Uruguai. Para ele, Florianópolis servia. Decidido o ponto cardeal a seguir, rumamos ao sul.

A viagem começa com uma carona organizada, com o querido amigo Daniel que estava indo à Curitiba de carro visitar sua mãe (pessoa mais que querida). Aí, mais uma vez o cuidado parental tentou atacar nossa meta de viajar de carona. Os pais apresentam alta dificuldade cognitiva em entender o porquê de se colocar nessa posição de risco, e não de comprar uma passagem de ônibus ou mesmo desistir de ir. Neste caso em especial, a maior questão era realmente o dinheiro.

A teoria universal da classe média é que, sem dinheiro, não se viaja. Se a viagem for realmente muito importante e inadiável, viaje pagando tudo em 3 vezes no cartão. A terceira opção (por nós aí escolhida), foi viajar de carona.

Há um risco? Sim, há, não sejamos inocentes.
É perigoso? Depende. Há maneiras e maneiras de se viajar de carona.
É divertido? Absolutamente.
É ecológico? Só perde para a bicicleta.
E por quê quase ninguém faz? Porque o medo domina a nossa sociedade.

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Daniel nos levou de carro até um posto de gasolina já na BR 162 mas ainda em Curitiba. Saíram apreensivos, achando que possivelmente, nosso plano não daria certo.

Greg e eu tínhamos uma mochila nas costas cada um, uma barraca, 2 sacos de dormir, alguma comida, água, e muito ânimo, um sorriso no rosto, e prosa das boas para falar com o caminhoneiros.

A técnica nessa situação é não ficar na beira da estrada com o dedo apontado (como se vê muito por aí), mas aproveitar o local de parada para se apresentar, explicar a situação, e também, sentir a energia/astral do motorista.

Neste posto, tinha muito caminhão. De todos os tipos, cores, e origem. Tinha até os uruguaios. Tinha esperança de ver as praias do Rio de La Plata.

Tentamos todos os caminhões uruguaios, e todos eles diziam que não podiam nos levar, porque a cabine era gravada. Significa que a porta do passageiro dispara um alarme se for aberta, e mesmo as conversas lá dentro são gravadas.

O que aprendi nessas andanças de caminhão é que o medo de roubo de carga é a maior questão dos profissionais e empresas de estrada.

O caminhoneiro que nos levou estava transportando vidros de Curitiba para Florianópolis, e disse que não haveria problema nenhum em nos deixar por lá. Entramos, proseamos, e o tempo passou com a tranquilidade que se deve passar em uma estrada. Foi interessante observar o comportamento do motorista de um caminhão. Estar neste local, e não no carro ao lado, dá também uma segurança que nunca tinha antes sentido na vida.

O controle das marchas, a quantidade de freios, velocidade, tudo é calculado de uma maneira muito diferente de quando se está em um carro. As questões passam bem mais para o controle do peso, para que ele consiga parar a tempo quando precise parar, não tombe, não esquente demais, e a carga, o caminhão e o caminhoneiro cheguem inteiros ao destino. Nesta viagem, cheguei até a dormir na caminha que tem atrás dos bancos do passageiro (depois de muito falar da vida e perceber que estávamos em uma companhia realmente segura; os primeiros minutos em uma cabine de caminhão são sempre um pouco tensos).

O que descobrimos nessa viagem e que não sabíamos, é que há controle de bordo integrado a GPS e muitas coisas tecnológicas mais que, mesmo a distância, cortam o sistema de distribuição de combustível a partir de uma certa hora. Neste dia, o caminhão teria que chegar até as 22h00 no destino, com 10 minutos a mais no máximo, e a partir daí, iria parar automaticamente.


O caminhoneiro sabia que estava perto. Queria insistir. Mas às 22 horas, apesar de saber que estávamos a menos de 20 quilômetros do destino final, também sabia que não deveria arriscar, e o primeiro posto de gasolina da estrada foi a parada para passar a noite. Ele, iria dormir na caminha da cabine. Nós, armamos a barraca em cima da carreta aberta, entre dois amontoados de vidro.

A carreta não é essa, mas era parecida. Tinham umas 2 vezes o tamanho delas, e armamos a barraca entre os dois blocos de vidro.


Na manhã seguinte, nos despertamos, comemos algo do pão e queijo que tínhamos para o café da manhã, desmontamos a barraca, e voltamos pra estrada. Em menos de meia hora, ele nos deixou em um ponto de ônibus na beira da estrada, em São José-SC, e daí pegamos o circular para entrar na Ilha de Florianópolis, e encontrar com os amigos dos velhos tempos de Biologia que já nos esperavam por lá.

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