sábado, 29 de junho de 2013

Salamanca

Há uma semana, no fim de semana tempo-livre do mestrado, juntei-me com 3 amigas do mestrado e fomos para Salamanca.

Quarto reservado pelo AirBNB, passagens de ônibus e trem compradas, e seguimos de Astorgas, de onde terminamos a semana, para lá.

Perdi meu óculos de sol no caminho, mas se tem algo que tenho aprendido com esta viagem é não sofrer pela perda de bens materiais. Se há alguns anos isso me teria custado algumas horas de bom humor, com uma certa melancolia durante todo o fim de semana, desta vez, nem doeu. Não porque eu não gostasse dele, mas porque tenho descoberto que é uma besteira se preocupar com isso. E se tem algo de "bom" nessa sociedade de consumo em que vivemos, é que o consumo é tão tão grande, que um novo pode vir pelo Freecycle, ser achado em um brocante de Paris neste fim de semana, em uma loja popular de alguma esquina européia, ou mesmo de uma ótica qualquer. O que não vale a pena, é esquentarmos a cabeça com isso. Sofri um pouco mais há 2 meses atrás quando esqueci meu cachecol verde, feito pela minha mãe, no trem inglês.

Pensamentos à parte, um pouco de roteiro e outras dicas úteis.

O casco histórico de Salamanca é bem central, e fácil de se entender. Como em quase toda cidade espanhola, há uma Plaza Mayor, lugar em que minha opinião vale sim gastar alguns centavos a mais para tomar algo sentando em um bar, aproveitando o sol.

Plaza Mayor
E se a grana estiver curta, não se aveche em comprar um sorvete ou uma pizza em algum canto ao redor, e sentar-se no meio da praça com os amigos durante a noite. Está cheio de Salamantino fazendo isso por lá!



Tive a sorte de ter conhecido um rapaz de lá, o Victor, que me apresentou a seus amigos e me ajudou a ver cidade com os olhos de quem cresceu e viveu a vida toda por lá.

Uma das histórias que me contou, é que uma vez ao ano, o homem mais velho de uma dada família nobre de Salamanca, deve subir até a abóbada desta torre da Catedral, e tocar uma música lá de cima. Coisa de fiel, promessa de família.
Catedral Nueva de Salamanca
Essa catedral é, na verdade, cheia de história. É nela também que faltam as imagens santas, roubadas na Guerra da Independência durante a ocupação francesa. Uma outra história deste período, foi Fran, um arqueólogo da Universidade de Salamanca, quem me contou. Havia um padeiro da cidade que recebeu os franceses com bons pastéis espanhóis.

Catedral de Salamanca. Vejam que em alguns pedestais, faltam os santos.
Também fui convidada para ver um concerto em homenagem ao V Centenário da Catedral de Salamanca. Lembrem-se que há 500 anos, era o auge da Igreja Católica na Espanha, logo depois da expulsão dos mouros. Era um grupo da cidade, o Coro Contrapunto, executando peças de Vivanco, Olvares e Quevedo. Acho que foi a primeira vez que escutei o órgão na minha vida.

Grades na Igreja, para separar o joio do trigo
Por sinal, falar de Salamanca é falar da sua universidade, a mais antiga da Espanha. Fora o turismo, é ela quem dá a vida a esta cidade. Antigamente, para celebrar a formatura de algum aluno (quase sempre - se não sempre - homens), de direito ou medicina, o formando e sua família deveriam matar um touro jovem, e preparar a carne para a festança. Muita gente ia até a porta da universidade tentar filar um pouquinho. E com o sangue deste touro, escrevia Victor na parede de algum edifício, com o nome e ano de formatura do "vencedor".

Mastro onde bandidos ficavam amarrados, para exposição pública
Salamanca é banhada a curso de história. Foi no convento de lá que no final do século XV, Cristóvão Colombo (ou Colón, para os espanhóis), negociou as navegações para as Índias Orientais.
O convento de Salamanca, onde se negociou a descoberta das Américas
De segunda a sexta, há um museu sobre a Ditadura de Franco, onde pode-se ver inúmeros documentos e um pouco mais da história deste período também.

Mas se o tempo ajudar, dê-se um intervalo no curso prático de história, e faça um piquenique no parque linear ao lado do Rio Tormes, cruzando pela ponte romana. Recentemente, desenterarram um touro do período romano, que fica posto na ponte. Perguntei ao Fran, este amigo arqueólogo, como sabiam que se tratava de um touro (já que o bicho não tem cabeça). Disse que é porque ele tem bolas.
O cubo no  meio da foto, é o touro

O parque ao lado do Rio Tormes
Outra coisa interessante são os nomes das ruas em Salamanca. E o humor feito a partir delas.

Calle Silencio
A Casa Lis é um dos edifícios emblemáticos, destoando um pouco da arquitetura medieval com sua arquitetura moderna industrial de ferro e vidro.
É nela que funciona o Museu de Art Nouveau, um dos poucos museus espanhóis que gera dinheiro. Está encravado na antiga muralha que circunda a cidade.

Casa Lis, uma das obras de Eiffel na cidade.
E para acabar com o fim de semana, uma boa fogueira de São João, que originalmentee deveria coincidir com o solstício de verão. As pessoas fazem fogueiras em diversas partes da cidade, para queimar as coisas velhas e começar o ano melhor.
Festa de São João
 E a parte divertida de se estar viajando com o grupo de 25 pessoas de 15 países diferentes, desde setembro do ano passado!

Aproveitando o sol na ponte romana
 Hoje termina o primeiro ano do mestrado!


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Informações práticas
Recomendo o apartamento do Jaime e Carolina! Jaime é espanhol, Carolina é brasileira, e eles fazem você se sentir em casa! Fora que foi um dos meus melhores café da manhã no último um ano de Europa.

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