sábado, 22 de agosto de 2009

Cocô de Mostarda

Foi um tenebroso inverno. Um longo inverno sem escrever. Aos leitores, minhas desculpas.

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Há cerca de 10 dias fui a Argentina, apresentar um trabalho em um congresso.
II Encuentro Internacional La Economía de los Trabajadores: Autogestión y Trabajadores Frente a la Crisis Global. 
Escrevemos um artigo sobre a autogestão da ITCP/UNICAMP, onde trabalho atualmente. Mas disso conto depois.

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Domingo a tarde, chuvoso e nublado. Saio de La Plata para Buenos Aires. Objetivo: encontrar a Carol no albergue para irmos ao aeroporto.
Desço do ônibus na marginal da Av. 9 de Julio, e vou caminhando pela Av. de Mayo, rumo a Calle Florida: uma mochila cargueira nas costas, uma sacola de feira na mão esquerda, e uma mochilinha que faz as funções de bolsa na frente do corpo. Paro momentaneamente para arrumar o peso e ver se estava na direção certa.
De repente, um líquido amarelo e viscoso cai sob minha frente. Parece que sinto algo na cabeça. Tiro a boina, e ali está: cocô de passarinho, obviamente.
Cansada e triste pelo cancelamento das feiras de artesanato de domingo, querendo chegar logo em casa e ver meu menino grande, segui caminhando, com a certeza de resolver aquilo no albergue onde estava a Carol, e nada a lamentar.

30 metros a frente me pára um senhor: (Tecla SAP) 
-Senhora, você não viu o que aconteceu, a senhora está toda cagada
(páro, e me dou conta que de fato havia uma mancha amarela no meu casaco)
Rapidamente, o senhor me oferece uns pedaços de guardanapo para que eu me limpe. Há uns 3 metros dele há um banco. Desmonto o equilíbrio perfeito das malas. Há um carro vermelho parado o lado, com um senhor lendo jornal.
A mochila, que estava vestida com a capa de chuva, toda melecada. Por sorte a capa, e não a mochila. Sobre um cheiro horrível, me dá ânsia, e chego a me sujar com aquilo.
Nada de água.
Vejo que o estrago é maior do que o que os papéis poderiam limpar. O homem se reaproxima e me oferece mais papel.

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Em questão de milésimos de segundos, minha mochila-bolsa sobe, o carro vermelho sai de fininho, e eu me dou conta de que fui roubada - o senhor do papel virou fumaça no carro vermelho.

No milésimo seguinte, saio correndo pela Av. de Mayo, vazia, atrás do carro vermelho.
Antes mesmo de perceber, as mulheres da floricultura começar a me chamar, e vejo minha mochila nas mãos de um outro senhor, me buscando para devolvê-la.

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O fato é que estava tudo lá, intacto. Acho que nem deu tempo de abrir a mochila. Cheguei a procurar para ver se havia algo a mais, drogas ou explosivos.
Não aconteceu nada, além do susto e da aventura. Meu anjo da guarda é forte.
E só aí fui perceber que o cocô do passarinho não era bosta, mas mostarda, de um golpe bem bolado por 2 ou 3 argentinos.
Uma despedida da Argentina, a la "9 Rainhas".

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