Tafraout é uma cidade cravada no meio das montanhas do Anti-Atlas, há 1200 metros de altitude. Apesar disso, a temperatura no verão é bastante elevada (40oC durante o dia), mas no inverno pode chegar a 5oC pela noite. Por conta das temperaturas, o verão aqui é a baixa temporada. O lugar perfeito para quem quer evitar turistas e aglomerações.
|
Totem em uma das praças de Tafraout |
O caminho em si só, é de tirar o fôlego, com suas curvas, montanhas, zonas de cultivo, cabras, ovelhas, e tendas dos berberes nômades.
Nos arredores da cidade, árvores de argan e amendoeiras se espalham por todos os lados.
É bom saber que o período de chuvas é em fevereiro e março, mas não sei o quanto isso afeta as atrações.
Como chegar
A partir de Tiznit, há uma grande oferta de ônibus (saindo também de Agadir ou Inezgane). Há um ônibus que chega a Tafraout pela estrada de Aït Baha.
CTM (Checar horários no site).
Trans Balady. O trajeto é por Tiznit e demora cerca de 5-6 horas.
Saídas de Inezgane (vizinho à Agadir): às 7h00 e 22h00.
Saídas de Tafraout: 8h00 e 16h00.
É possível conseguir passagens diretas também a partir de Casablanca e Rabat.
|
Um pouco da vista da estrada |
|
Mapa da região. Fonte: Guia Routard 2013. |
Onde se hospedar
Há inúmeras pousadas na cidade. O preço justo, na baixa temporada, é algo entre 100 e 150 dirhams para 2 pessoas.
Hospedei-me com um amigo no “Camping Les Tros Palmiers”, onde há 3 pequenos quartos simples para alugar. O banheiro é de uso coletivo, e deve-se pagar a ducha a parte. Coisas de lugares onde a água é um recurso escasso. O charme do lugar está pelo leve afastamento do centro cidade, da proximidade com a montanha, e da laje dos quartos, onde com um pouco de jeito e coragem pode-se escalar e aproveitar para ver o céu.
|
Os preços malucos do camping. Quer tomar banho? Então paga! |
O que fazer
O passeio pelas Gorges d’Aït-Mansour é a grande pedida. Pode-se alugar uma bike, e percorrer a região pedalando, mas na falta de equipamento adequado, tempo, e com a temperatura em torno de 45 graus, optamos por um pacote com uma agência (eu e um amigo, mais um casal que chegou de ônibus com a gente).
|
Mapa com os principais atrativos da região. |
Já adianto que a desigualdade de classe, exploração do trabalho, e tudo mais que se possa criticar em relação à organização do turismo, vale pra Tafraout.
|
Um pouco da paisagem |
Pagamos 225 dirhams cada um (um total de 900), e o guia-motorista, que passou todo o dia com a gente (das 10 as 18h00) levou 50 dirhams pelo dia trabalhado. Considerando o almoço em um boteco no oásis (um máximo de 50 dirhams no total), o dono da agência, por ser dono do automóvel e operador de turismo, embolsou 800 dirhams sem sair do escritório, a
Tafraout Adventure.
Conversando um pouco sobre as condições de trabalho, a possibilidade de abrir um negócio próprio, etc, o guia nos explicou que para abrir uma agência, e obter a autorização do governo, é preciso ter no mínimo 10 veículos 4x4. Está claro que não é possível para a maior parte dos marroquinos, menos ainda para um guia que ganha 50 dirhams por dia (que trabalha). Ele diz que trabalha de 3 a 4 dias na semana no máximo, mas precisa estar sempre disponível para o patrão.
|
O carro 4x4 que dá direito a ter uma agência em Tafraout. |
Mas bem, vamos fingir que o mundo é bonito e colorido!
E chegamos a uma das atrações do roteiro! As pedras coloridas do artista belga Jean Veran.
Lá nos anos 80 (o ano em que nasci), o pintor belga decidiu pegar as lindas pedras perdidas do Anti-Atlas, e passar uma demão de tinta.
Peço encarecidamente ajuda aos amigos entendidos de arte para me explicar o conceito.
|
As pedras de Jean Varen |
Fato é que visitar os rochedos azul-calcinha e rosa-bebê fazem parte do roteiro da região.
Seguindo viagem, uma das coisas que são realmente interessantes, é ver as tendas berberes, e os berberes pastoreando suas ovelhas e cabras.
|
A lã é também usada para a tapeçaria berbere |
|
Aproveite para ver ovelhas passeando. Nosso guia comprou uma para o dia da festa do sacrifício por 1000 dirhams. Um camelo, não sai por menos de 20 mil. |
|
Pé de argan, perdido no solo raso do Anti-Atlas |
Outra coisa interessante é sobre a gestão do uso da terra. Os lotes são marcados com peças de concreto alinhadas, que delimitam onde começa e termina um terreno. Em cima da peça, fica marcado o nome ou as iniciais do proprietário. Os nômades berberes respeitam os terrenos, não deixando seus animais por lá (ainda estou me perguntando se a zona onde eles deixam os bichos forragear é ou não do Estado).
|
Cone de concreto que delimita os terrenos. |
Recentemente houve também um alto investimento do governo em projetos de irrigação. É possível ver a cada poucos metros uma caixa d'água tipo cacimba, com canos azuis em todos os terrenos. Nos olivares, havia mesmo um sistema de gotejamento funcionando junto às oliveiras.
|
Isso é na estrada para Essaouira, mas pode-se observar a fonte de água à direita da árvore |
|
Nestes platôs, antigamente, cultivava-se trigo. Com a seca recente, os agricultores deixaram de produzir. |
|
O ponto branco bem no meio da foto é uma tenda berbere. |
Terminando com o olhar "agronômico", há uma porção de ruínas que podem ser visitadas.
|
Uma das cidades abandonadas. A maior parte das cidades foi abandonada nos anos 50, depois de fortes períodos de chuva que colocaram em risco a estabilidade das mesmas. Há famílias que moram em algumas das casas. Qualquer semelhança com as favelas brasileiras é mera coincidência. |
Tagaout é uma dessas cidades abandonadas.
|
O hall do Riad. |
|
Ruína de Riad, vista de um dos quartos |
|
E a casa, por fora. |
|
Mais ruínas. |
|
Fogueira no meio do caminho |
|
No caminho, pode-se visitar algumas casas berberes abandonadas, |
E no fim do dia, finalmente, um arroio d'água pra se banhar, e uma porção de frutas no caminho, coletadas depois do almoço. Aí sim entendi o que é o significado de um oásis. Tâmaras, figos, amêndoas e amoras disponíveis em quantidade, pra quem quisesse pegar.
|
O Arroio d'água na Gorges d'Aït Mansour |
|
Tâmaras (mais uma palavra que vem do árabe) |
|
Tentando alcançar o figo maduro |
|
Do lado esquerdo, um sistema de canalização que leva a água por toda a estrada. Alguém quebrou e não arrumou.
|
Figo |
|
|
E não é que no meio do caminho, a gente acha um cartucho de bala do Exército Americano |
Possivelmente tem muitos mais roteiros por lá, e se quiser contribuir deixe uma mensagem para que todos conheçam mais e melhor.
|
Mina de mármore |
Mas o mais legal de tudo foi ver do terraço do hotel-camping a chuva de meteoro no último dia do Ramadam.
Onde Comer
Na primeira noite, comemos em um dos restaurantes ajeitados na cidade, La Kasbah. A comida é bem temperada, foi um dos lugares onde mais gostei (a ideia do omelete feito na Tajine é genial), mas tive o infeliz encontro com um pedaço de carne colado no fundo (é bem difícil lavar uma tajine).
|
Omelete berbere preparado no Tajine. Infelizmente, tive o encontro com um pedaço de carne, possivelmente colado no mundo do Tajine mal lavado. |
Mas a recomendação verdadeira é para o Restaurante Étoile du Sud, nem tanto pela comida (que é mais ou menos igual em todos os restaurantes), mas em especial para o ambiente, uma tenda de festa com poltronas coloridas.
|
L'Etoile du Sud |
Um parênteses marroquino: onde há comida, há gato. Eles chegam antes, junto, ou depois da comida, e podem atacar seu prato!
O que comprar
Aproveite que é zona produtora de óleo de argan, e visite as cooperativas com suas mulheres sentadas no chão, processando a pasta de semente separando o óleo da mesma.
|
Cooperative AFRA, em Tafraout |
A outra coisa típica de Tafraout são as babuches tradicionais, mas uma outra infinidade de modelos.
Aproveita a produção local de sapatos. (por sinal, mais uma palavra do português que vem do árabe, zpat, para sapatos).
|
É a perdição para os amantes de sapatos coloridos, criativos e confortáveis. |
|
As famosas babouches de Tafraout, amarelas para os homens, vermelhas para as mulheres. |
As babuches tradicionais são o modelo clássico da foto aí em cima, amarelo para os homens, vermelho para as mulheres. O preço justo a pagar é 60 dirhams. Há também a versão bordada, e aí o preço aumenta consideravelmente.
|
Alguns dos sapatos produzidos em Tafraout
|
A versão feminina da babuche |
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário