domingo, 18 de agosto de 2013

Tafraout




Tafraout é uma cidade cravada no meio das montanhas do Anti-Atlas, há 1200 metros de altitude. Apesar disso, a temperatura no verão é bastante elevada (40oC durante o dia), mas no inverno pode chegar a 5oC  pela noite. Por conta das temperaturas, o verão aqui é a baixa temporada. O lugar perfeito para quem quer evitar turistas e aglomerações.

Totem em uma das praças de Tafraout

O caminho em si só, é de tirar o fôlego, com suas curvas, montanhas, zonas de cultivo, cabras, ovelhas, e tendas dos berberes nômades.

Nos arredores da cidade, árvores de argan e amendoeiras se espalham por todos os lados.

É bom saber que o período de chuvas é em fevereiro e março, mas não sei o quanto isso afeta as atrações.

Como chegar
A partir de Tiznit, há uma grande oferta de ônibus (saindo também de Agadir ou Inezgane). Há um ônibus que chega a Tafraout pela estrada de Aït Baha.

CTM (Checar horários no site).

Trans Balady. O trajeto é por Tiznit e demora cerca de 5-6 horas.
Saídas de Inezgane (vizinho à Agadir): às 7h00 e  22h00.
Saídas de Tafraout: 8h00 e 16h00.

É possível conseguir passagens diretas também a partir de Casablanca e Rabat.

Um pouco da vista da estrada

Mapa da região. Fonte: Guia Routard 2013.
Onde se hospedar
Há inúmeras pousadas na cidade. O preço justo, na baixa temporada, é algo entre 100 e 150 dirhams para 2 pessoas.

Hospedei-me com um amigo no “Camping Les Tros Palmiers”, onde há 3 pequenos quartos simples para alugar. O banheiro é de uso coletivo, e deve-se pagar a ducha a parte. Coisas de lugares onde a água é um recurso escasso. O charme do lugar está pelo leve afastamento do centro cidade, da proximidade com a montanha, e da laje dos quartos, onde com um pouco de jeito e coragem pode-se escalar e aproveitar para ver o céu.

Os preços malucos do camping. Quer tomar banho? Então paga!





O que fazer
O passeio pelas Gorges d’Aït-Mansour é a grande pedida. Pode-se alugar uma bike, e percorrer a região pedalando, mas na falta de equipamento adequado, tempo, e com a temperatura em torno de 45 graus, optamos por um pacote com uma agência (eu e um amigo, mais um casal que chegou de ônibus com a gente).


Mapa com os principais atrativos da região.
Já adianto que a desigualdade de classe, exploração do trabalho, e tudo mais que se possa criticar em relação à organização do turismo, vale pra Tafraout.

Um pouco da paisagem
Pagamos 225 dirhams cada um (um total de 900), e o guia-motorista, que passou todo o dia com a gente (das 10 as 18h00) levou 50 dirhams pelo dia trabalhado. Considerando o almoço em um boteco no oásis (um máximo de 50 dirhams no total), o dono da agência, por ser dono do automóvel e operador de turismo, embolsou 800 dirhams sem sair do escritório, a Tafraout Adventure.

Conversando um pouco sobre as condições de trabalho, a possibilidade de abrir um negócio próprio, etc, o guia nos explicou que para abrir uma agência, e obter a autorização do governo, é preciso ter no mínimo 10 veículos 4x4. Está claro que não é possível para a maior parte dos marroquinos, menos ainda para um guia que ganha 50 dirhams por dia (que trabalha). Ele diz que trabalha de 3 a 4 dias na semana no máximo, mas precisa estar sempre disponível para o patrão.


O carro 4x4 que dá direito a ter uma agência em Tafraout.
Mas bem, vamos fingir que o mundo é bonito e colorido!
E chegamos a uma das atrações do roteiro! As pedras coloridas do artista belga Jean Veran.
Lá nos anos 80 (o ano em que nasci), o pintor belga decidiu pegar as lindas pedras perdidas do Anti-Atlas, e passar uma demão de tinta.
Peço encarecidamente ajuda aos amigos entendidos de arte para me explicar o conceito.

As pedras de Jean Varen
Fato é que visitar os rochedos azul-calcinha e rosa-bebê fazem parte do roteiro da região.

Seguindo viagem, uma das coisas que são realmente interessantes, é ver as tendas berberes, e os berberes pastoreando suas ovelhas e cabras.



A lã é também usada para a tapeçaria berbere

Aproveite para ver ovelhas passeando. Nosso guia comprou uma para o dia da festa do sacrifício por 1000 dirhams. Um camelo, não sai por menos de 20 mil. 

Pé de argan, perdido no solo raso do Anti-Atlas
 Outra coisa interessante é sobre a gestão do uso da terra. Os lotes são marcados com peças de concreto alinhadas, que delimitam onde começa e termina um terreno. Em cima da peça, fica marcado o nome ou as iniciais do proprietário. Os nômades berberes respeitam os terrenos, não deixando seus animais por lá (ainda estou me perguntando se a zona onde eles deixam os bichos forragear é ou não do Estado).

Cone de concreto que delimita os terrenos.
Recentemente houve também um alto investimento do governo em projetos de irrigação. É possível ver a cada poucos metros uma caixa d'água tipo cacimba, com canos azuis em todos os terrenos. Nos olivares, havia mesmo um sistema de gotejamento funcionando junto às oliveiras.


Isso é na estrada para Essaouira, mas pode-se observar a fonte de água à direita da árvore


Nestes platôs, antigamente, cultivava-se trigo. Com a seca recente, os agricultores deixaram de produzir.

O ponto branco bem no meio da foto é uma tenda berbere.

Terminando com o olhar "agronômico", há uma porção de ruínas que podem ser visitadas.

Uma das cidades abandonadas. A maior parte das cidades foi abandonada nos anos 50, depois de fortes períodos de chuva que colocaram em risco a estabilidade das mesmas. Há famílias que moram em algumas das casas. Qualquer semelhança com as favelas brasileiras é mera coincidência.
Tagaout é uma dessas cidades abandonadas.

O hall do Riad.

Ruína de Riad, vista de um dos quartos
E a casa, por fora.

Mais ruínas.

Fogueira no meio do caminho
No caminho, pode-se visitar algumas casas berberes abandonadas,
E no fim do dia, finalmente, um arroio d'água pra se banhar, e uma porção de frutas no caminho, coletadas depois do almoço. Aí sim entendi o que é o significado de um oásis. Tâmaras, figos, amêndoas e amoras disponíveis em quantidade, pra quem quisesse pegar.


O Arroio d'água na Gorges d'Aït Mansour
Tâmaras (mais uma palavra que vem do árabe)

Tentando alcançar o figo maduro
Do lado esquerdo, um sistema de canalização que leva a água por toda a estrada. Alguém  quebrou e não arrumou.




Figo

E não é que no meio do caminho, a gente acha um cartucho de bala do Exército Americano

Possivelmente tem muitos mais roteiros por lá, e se quiser contribuir deixe uma mensagem para que todos conheçam mais e melhor.


Mina de mármore
Mas o mais legal de tudo foi ver do terraço do hotel-camping a chuva de meteoro no último dia do Ramadam.

Onde Comer

Na primeira noite, comemos em um dos restaurantes ajeitados na cidade, La Kasbah. A comida é bem temperada, foi um dos lugares onde mais gostei (a ideia do omelete feito na Tajine é genial), mas tive o infeliz encontro com um pedaço de carne colado no fundo (é bem difícil lavar uma tajine).

Omelete berbere preparado no Tajine. Infelizmente, tive o encontro com um pedaço de carne, possivelmente colado no mundo do Tajine mal lavado.

Mas a recomendação verdadeira é para o Restaurante Étoile du Sud, nem tanto pela comida (que é mais ou menos igual em todos os restaurantes), mas em especial para o ambiente, uma tenda de festa com poltronas coloridas.
L'Etoile du Sud

Um parênteses marroquino: onde há comida, há gato. Eles chegam antes, junto, ou depois da comida, e podem atacar seu prato!




O que comprar
Aproveite que é zona produtora de óleo de argan, e visite as cooperativas com suas mulheres sentadas no chão, processando a pasta de semente separando o óleo da mesma.
Cooperative AFRA, em Tafraout

A outra coisa típica de Tafraout são as babuches tradicionais, mas uma outra infinidade de modelos. 
Aproveita a produção local de sapatos. (por sinal, mais uma palavra do português que vem do árabe, zpat, para sapatos).

É a perdição para os amantes de sapatos coloridos, criativos e confortáveis.
As famosas babouches de Tafraout, amarelas para os homens, vermelhas para as mulheres.
As babuches tradicionais são o modelo clássico da foto aí em cima, amarelo para os homens, vermelho para as mulheres. O preço justo a pagar é 60 dirhams. Há também a versão bordada, e aí o preço aumenta consideravelmente.

Alguns dos sapatos produzidos em Tafraout
A versão feminina da babuche


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