sábado, 14 de setembro de 2013

Pedalando na Europa

Acabo de chegar em Lyon. A cidade mais cicloviável que já visitei, não fosse a montanha onde eu moro, Caluire et Cuire, uma cidade no subúrbio mas colada à Lyon.

E assim sendo, retomo as memórias de pedalar, as bicicletas que deixei pelo caminho neste um ano em que morei em 5 países.

Em Angers, a prefeitura da cidade nos ofereceu uma bike. Todas as pessoas recém-chegadas na cidade, tem direito a uma bike emprestada pelo Estado por 6 meses, renováveis em um ano.

A bike de Angers!
Você precisa comprovar sua residência, apresentar seus documentos, e ter uma conta em banco, para o caso de você "perder" sua bike. Caso ela não seja devolvida no fim do prazo, eles debitam a sua conta. Há o modelo com cesta, e o outro com bagageiro. Todas elas vem com uma espécie de dínamo para iluminar os caminhos na noite!

Andar de bike à noite sem as luzes em Angers gera multa, e de verdade. Uma amiga pagou 50 euros pela infração (o dínamo estava quebrado). São também infrações andar na contra-mão, ou atravessar no sinal vermelho.

Angers está no meio do caminho do Loire à Vélo, uma ciclorota que acompanha o maior rio ainda selvagem da Europa.


Na Itália, em Piacenza, no primeiro dia, decidi desbravar a cidade atrás do famigerado local onde se vendiam as bikes usadas. Todo mundo falava que era perto da estação, na estação, mas nada. Enfim, dentro da estação de trem de Piacenza há um grande estacionamento, e lá no fundo, há um pequeno escritório onde os funcionários reformam e vendem bikes usadas. Paguei 30 euros na minha, que ficou abandonada em frente ao antigo prédio, e ainda estava lá em maio, 3 meses depois, sem ninguém mexer. Na próxima ida a Itália, recupero ela.

Bicicletário em frente à universidade du Sacro Cuori, em Piacenza.
Em Piacenza, há um roteiro cicloviário que sai da cidade, e leva até um castelo onde se toma o melhor cappuccino custo-benefício da Itália! A cidade em si, possui poucas rotas para bike, e pedalar na neve de janeiro todas as manhãs foi uma grande aventura.

Da Itália, para Telford, talvez a cidade mais americanizada da Inglaterra. As vias feitas para carros, a falta de pedestres, a frieza do asfalto, esfriaram meu coração quando cheguei por lá. Mas já na primeira semana descobri uma loja de bikes usadas, que na verdade é o ateliê de um pai e seu filho de adolescente, que reformam bicicletas para que ele aprenda um pouco de mecânica, e passem um pouco de tempo juntos, a Ride Again Cycles.

Essa bike foi minha terapia na Inglaterra, viajou comigo de trem para todos os lados, me permitiu fazer amigos nos encontros pelas ciclovias, e descobrir uma terra britânica que poucos tem a chance de conhecer. Também comecei a aprender mais sobre peças e marcas, e descobri o conforto do quadro Raleigh.

Minha bike inglesa. O alforge é uma mochila que encontrei jogada no lixão ao lado da estação de trem de Telford.

A bike inglesa terminou sua vida em Stroud, com a sobrinha de um amigo querido, mestre em agricultura biodinâmica.

Já em Lyon, o sistema usado é o das bikes públicas, o Velov. Por 25 euros ao ano, você tem acesso ao sistema de empréstimos, mas a cada meia hora (uma hora, com a carta TCL) você deve devolver a bicicleta em uma estação de serviço, se não, a conta sobe para 1 euro a cada hora ultrapassada. O princípio é simples: a bike não é sua, ela só está sob seu uso, e o tempo de meia hora é para que as pessoas devolvam o veículo enquanto fazem outras coisas, e não a guardem como se fosse delas por um dia todo.


A bike de Lyon


Bike equipada com cesta, luzes e para-lamas.

Mas como moro em cima da montanha, onde não há estação de bicicletas, pensei em comprar uma bike usada, mas na cidade grande os preços são muito inflacionados, e não sei como será a vida em Clermont-Ferrand, a próxima parada.

E eis que pela primeira vez, depois de mais de 10 anos de vício ciclístico, graças ao Freecycle, descubro a cidade e meu novo equilíbrio deslizando sobre uma patinete!




Pequena homenagem a minha bike platense,  que estava abandonada no prédio da Engenharia Florestal, e  me foi emprestada durante a temporada na Argentina.

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