sexta-feira, 6 de junho de 2014

Tempo é dinheiro

Desde os velhos tempos de ITCP, dos debates sobre trabalho e remuneração, que a questão do tempo é importante. Sem entrar nos meandros da qualificação profissional e do tempo (e dinheiro) investidos muitas vezes em educação, ou insalubridade de determinadas funções (que podemos considerar desde o perigo físico de algumas profissões como eletricistas, químicos, etc. quanto o estresse gerado pela responsabilidade de gerir grandes equipes ou lidar com riscos, por exemplo, financeiros), o que faz com que um trabalho valha, de fato, mais que o outro?

No filme "O preço do amanhã" (In Time, no idioma original), a vida dos personagens é baseada no tanto de tempo que eles tem para viver. Não é o dinheiro que compra comida, transporte, moradia, mas as horas que você acumula em seu contador pessoal. É o tempo trabalhado que te dará os minutos necessários para que você continue vivendo. E quando o tempo acaba, você morre. Nesse filme, tempo é dinheiro.
"A verdade é que há tempo mais que suficiente para todos. Para alguns serem imortais (leia-se, ricos), muitos precisam morrer". (trecho do filme In Time, 2011).

E na nossa vida o que é mais importante, tempo ou dinheiro?

Iniciativas de banco de tempo existem no mundo já há alguns anos.
Ano passado, na Espanha, tive a oportunidade de conhecer alguns usuários do Banco del Tiempo de Salamanca. Mas iniciativas como esta estão espalhadas por quase toda a Espanha: San Javier, Bilbao, Madrid, Zaragoza, Burgos, Valladolid, Málaga, Valência
O sistema na Espanha é dividido por núcleos regionais, pela página do BDT.

O dinheiro é controlado por bancos, multinacionais, seus empregadores, o Estado.
Mas o tempo, o tempo te pertence. E essa é a grande revolução proposta por esse tipo de iniciativa.

O princípio básico de funcionamento é: você oferece uma hora de um dado serviço. Esse serviço pode ser uma aula de inglês, passear com cachorro, ajudar com mudança, instalar um chuveiro, ajudar a montar um CV, aula de fotografia, serviço de photoshop, até conselheiro amoroso. Não há um preço para essa atividade. Cada hora, de qualquer serviço, tem o mesmo valor.
A partir do momento em que você "trabalhar" essa uma hora, você ganha uma hora para gastar com outro serviço que você necessite. A moeda no caso, não é dinheiro, mas a sua hora de trabalho.

Uma hora de qualquer serviço oferecido te permite receber uma hora de outro serviço oferecido por essa rede.

E como fazer isso funcionar?
Quanto mais pessoas oferecendo e executando serviços em uma rede, maior a chance de você conseguir um serviço que você precisa.
E não se tratam apenas de serviços profissionais. Para além de "desmonetarizar" a vida, está o fato de você descobrir seus múltiplos talentos e formas de servir aos outros, e descobrir o quanto de pessoas por aí podem te oferecer exatamente aquilo que você precisa.

É mais um caminho para mostrar e vivenciar a abundância em que vivemos no mundo.
Muitos dos nossos medos e angústias enquanto seres sociais vem exatamente desta teoria da escassez que se propaga pelo mundo, e nada mais é que especulação. Enquanto sociedade, já atingimos um ponto onde temos recursos, físicos, naturais, e humanos, para que todos possamos viver bem. O problema está na lógica de acumular, de sobre-consumir, e de não compartilhar.

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O Bliive
Há algumas semanas, um amigo postou uma notícia sobre o Bliive no facebook. Curiosa pelas redes solidárias que sou, decidi fazer minha inscrição. O Bliive nada mais é que uma versão rede social para Banco de Tempo.

Qual a vantagem?
Tecnologicamente, a página é muito avançada. Você pode avaliar os usuários, procurar por cidade, serviço, etc. E funciona com o mesmo princípio de qualquer que hora de serviço tem o mesmo valor.
E é uma rede em português, criada por uma brasileira, onde há uma alta concentração de brasileiros propondo uma porção de atividades interessantes!

Quer ver como funciona?
Veja aqui, o exemplo dos serviços que ofereço na rede neste momento:

Do que eu não gosto?
Do modelo facebook de timeline. E pior, aberto a todos os usuários do sistema. Basicamente, qualquer pessoa cadastrada na rede pode saber quantos times money eu gastei ou ganhei, quando, com o quê e com quem.
Acho a ideia ótima, sei que toda minha navegação é rastreável, mas tê-la assim, pública, me incomoda, e possivelmente me fará deixar a rede.

O que mais poderia melhorar:
A possibilidade de cadastrar serviços remotos. Para mim por exemplo, morando em Vienna, há apenas 3 usuários cadastrados fornecendo serviços que não me interessam.
Pessoas que buscam por cidade/região, também não irão achar as minhas experiências sendo oferecidas na rede.

Em síntese
Cadastre-se. Defina quantas horas da sua semana você poderia trabalhar por uma moeda que não seja o dinheiro de verdade, e ofereça suas experiências. Você irá conhecer gente, ensinar e ajudar pessoas, e vai ver o quão gratificante isso pode ser.
Hoje de manhã, passei uma hora com um nipo-brasileiro ensinando-o um pouco de francês. Ele, em uma hora, de não falar nada, aprendeu algumas coisas básicas de pronúncia e gramática, e descobriu maneiras para estudar de maneira autodidata.
Eu, na terça-feira, fiz um atendimento com o jogo MahaLillah que me ajudou a avaliar meu momento profissional atual.

Você é dono do seu tempo.
E seu tempo pode mudar o mundo e a relação com as pessoas.
(P.S. Gastei uma hora para escrever esse post).

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